Em todos estes dias de solidão simpática, saudade doce e sentimento frémito, longe daqui, cruzei-me com um livro que me pedia para ser descoberto, na prateleira da biblioteca no quarto, há alguns meses.
Actual, sentido, duro, sentimentalista (a redundância é propositada...). O Era uma vez... do correr atrás do que pensamos nós e nosso e afinal não foi. A história da ilusão e memória açucarada (porque elas são-no sempre) que até nos pode fazer andar e fugir e voltar ao Mundo, se formos corajosos. Seguido do renascer não pedido, seguido do acordar para a realidade, acabando na reconstrução. Tudo para ser real.
A Maria do livro pede, em desespero, a quem ela sempre viu como um amor de Verão: Anda, anda morder-me o coração, na vontade de se sentir viva.
Embora me releia no Xavier a quem foi feito esse pedido, compreendi a Maria desde a primeira linha - e sabia que ao fim dos dois centos de páginas ela iria agir tal e qual como as palavras desfiadas o mostraram.
Eu?
Dou o meu coração a morder todos os dias. Em mordeduras maiores ou menores, simples mordiscadelas simpáticas.
Não porque precise que me roubem pedaços para me sentir viva, qual Maria. Não porque não saiba se sinto se me arrasto.
Mas sim e sempre porque gosto de me dar, de saber que um bocadinho de mim foi, algures no tempo, saboreado não só por mim.
[E sem querer, porque este devaneio me ocorreu ontem ao adormecer - no meio das dores imensas de corpo - este pensamento vai muito ao encontro aos valores de Saint-Exupéry, que celebramos hoje...]