Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Florbela Espanca
Hoje sinto-me uma retornada. Qual viagem de barco para a metrópole depois de dias no cenário da savana.
Percebi acima de tudo que vivo de e os medos. Que são eles que me aterrorizam, mas que também são eles que me empurram para a frente. À sua conta demoro e perco-me e oscilo. Mas cresço e avanço -
não pulo que é para não cair.
Tudo para dizer Lisboa correu bem. Entrou em mim com um sorriso à vista da placa da Abuxarda e não mais me largou. Estou agora sentada a assimilar. Nada de fantasmas, de arrependimentos, de memórias ocas.
Só Luz e Sol e mimo. Pão de queijo à chegada, abracinhos teletubbies, caminhadas e uma gatinha amarela.
Ser chamada de "enviada pela Providência". Sair para o calor, beber muita água, ter o Rossio a refrescar-me as costas. Subir a cidade ficar
overwelmed by it all. Tirar 300 fotografias em duas tardes. Caminhar o chão de princesas e ver que a cidade que me amedrontou afinal é linda, o Tejo tem três cores e não depende de filtros e pontos de luz e histórias barrocas para enganar/encantar.
Um jantar de família verdadeiro, famílias únicas, com pesca de carne pelo meio. Duas amigas de todas as horas, de muitas histórias sempre a meu lado a olhar e a partilhar a leveza e o à-vontade comigo.
Sem confusões, sem exageros, a vida fluiu como quando se está no sítio certo, na hora certa.
Miradouros e azulejos e estátuas e palacetes.
Carinho e saudade e vontade de ficar mais e mais dias ao lado da cadeira de baloiço.
Sei que foram os dias perfeitos, que não me apressei. Agora, viajas sem mim. Até uma cidade minimamente neutra. Se foste para o lixo ou se ensinarás mais alguém, não sei. Mas sei que cortei as amarras.
Ficaram-me a faltar a A. e a E.
Mas o nosso dia já esteve mais longe.
Este foi o fim-de semana de enterrar o machado. Ver o bom para além do mau. Parar com as culpas.
A mim. De mim.
E o B a cantar-nos. Por favor vê isso.